Foto: Arquivo Diário
Na última segunda-feira, o Exército chamou para prestar depoimento o soldado de 20 anos que foi agredido por sete colegas dentro de um alojamento da 29ª Brigada de Infantaria Blindada (29º BIB) em Santa Maria. A medida faz parte da sindicância aberta para investigar o caso. Ele também passou por novo exame médico, que teria mudado o apontamento de que os ferimentos foram produzidos "por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura, meio insidioso ou cruel".
Em nota ao Diário, o Exército esclareceu que o "Exame de Higidez é um procedimento administrativo conduzido por médico perito, constituído por duas partes".
- Uma parte inicial subjetiva (perguntas constantes dos números 1 ao 8), na qual o inspecionado (neste caso, o ex-soldado ofendido) responde a perguntas feitas pelo médico perito, que transcreve exatamente o que o inspecionado relata; e uma segunda parte objetiva, na qual o médico perito expressa o seu parecer, baseado no que foi respondido pelo inspecionado, contrastando com a sua inspeção física realizada (nesse caso, a inspeção física do ex-soldado). Ao final da inspeção, o resultado é apresentado ao inspecionado, que, não discordando com o parecer, assina o documento e recebe uma cópia para si - diz a nota.
Sobre a mudança no parecer quanto à circunstância em que os ferimentos foram causados, o Exército disse que isso se deve "exclusivamente a repostas diferentes apresentadas pelo ex-soldado à mesma pergunta feita pelo médico perito em ambos os exames".
O Exército afirma que não houve alteração no parecer do médico entre a primeira e a segunda avaliação.
No entanto, é possível ver que houve alteração de uma avaliação para outra, conforme os documentos obtidos pelo Diário e que estão abaixo:
Foto: Diário de Santa Maria
O resultado do primeiro exame
Foto: Diário de santa Maria
O resultado do segundo exame
Os documentos foram assinados pelo mesmo médico nas duas avaliações.
Além disso, em nenhum momento, durante o depoimento, ao qual o Diário teve acesso, o ex-soldado deu respostas que pudessem alterar a conclusão do apontamento sobre a circunstância em que os ferimentos foram causados.
O QUE DIZ A FAMÍLIA
De acordo com a família, a orientação de um advogado já foi buscada. Ela tem receio de que o caso "não dê em nada".
- Ele mal fala. Não sai do quarto. Tem vergonha do que aconteceu com ele. Vivemos em uma cidade pequena, então todo mundo nos conhece. É difícil. Agora, começou o tratamento com um psicólogo. Esperamos que melhore - disse um familiar.
Um inquérito para investigar o caso foi instaurado pela Polícia Civil. Ele tramita na esfera civil, diferente da militar. Um exame médico junto ao Departamento Médico Legal (DML) foi feito. O resultado ainda é aguardado.
A AGRESSÃO
A violência aconteceu na noite de 18 de fevereiro. O jovem era um Soldado de Efetivo Variável (Sd. EV), que cumpria o serviço militar obrigatório. O nome dele não foi divulgado pelo jornal para não expô-lo.
Conforme apurado pela reportagem, ele estava deitado na sua cama, em um dos alojamentos do quartel, quando foi surpreendido pelo grupo. Os agressores teriam tirado a vítima da cama e a imobilizado no chão. Enquanto um deles filmava, outros seis cometiam a agressão, com uso de cordas e um facão. A violência teria se estendido por pelo menos 10 minutos.
Soldado é agredido por colegas dentro de alojamento de quartel em Santa Maria
Quando um oficial de serviço flagrou o que estava acontecendo, mandou, após assistir à gravação, que as imagens registradas fossem apagadas. Um soldado disse para que escondessem o facão e as cordas. Outro oficial prestou socorro ao soldado agredido. A vítima sofreu ferimentos principalmente na região das costas, pernas e mãos. A família só ficou sabendo do caso dois dias depois, no dia 20, quando foi buscá-lo no quartel. Ele havia sido licenciado do Exército (foi dispensado do serviço militar e voltou para a vida civil).
Nesses dois dias, os sete agressores permaneceram presos de forma disciplinar. Após, foram licenciados.